terça-feira, 9 de novembro de 2010

ESPORTES: INCLUSÃO OU EXCLUSÃO?

ESPORTES: INCLUSÃO OU EXCLUSÃO?
Alex José da Costa
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O esporte como prática corporal encontra-se inserido de uma maneira fortemente presente no ambiente escolar. Inúmeros discursos, principalmente de nossos governantes, apresentam-no como fator de inclusão social.
No entanto, quando nos voltamos para a essência, para o fio condutor das atividades esportivas destacamos: a competição, a vitória, a conquista, entre outros. Paradoxalmente, os objetivos do esporte acarretam à maioria dos alunos a experiência da exclusão social, pois poucos possuem aptidões físicas para participarem de uma equipe que tem na vitória a razão de sua existência.
O Esporte de Rendimento contempla essas características e aplicadas nos momentos e espaços adequados resultam em títulos estaduais, nacionais e até internacionais, trazendo notoriedade e realização aos seus executores. Os valores e a importância do esporte de rendimento (espetáculo televisivo), são vultosos e indispensáveis.
Contudo, precisamos transportar essa realidade para a escola, fundir a proposta de ação pedagógica das instituições de ensino com as propostas do esporte.
Hoje em dia fala-se muito em projetos como, por exemplo, o Projeto Esporte na Escola, cujo objetivo principal é garimpar futuros campeões. Este projeto é equivocado desde sua concepção, uma vez que a escola não é vitrine para campeões, nem do esporte, nem de qualquer outro componente curricular, e sim um espaço de sociabilização, integração e, principalmente, intercâmbio de conhecimento. Quando inserimos esse esporte no contexto escolar ao invés de promover a inclusão, na verdade, estamos sendo coniventes com a exclusão, pois os mais habilidosos (minoria) integram a equipe e os menos habilidosos (grande maioria), geralmente, acabam sendo deixados de lado.

Segundo os PCN (1997), em sua apresentação, para uma boa parte das pessoas que freqüentaram a escola e vivenciaram a Educação Física ficou uma experiência prazerosa de sucesso e para outros uma memória amarga com a sensação de incompetência, medo de errar e frustrações. É a esses últimos que nós educadores precisamos nos atentar, porque barreiras e traumas adquiridos na idade escolar resultam em indivíduos sedentários e avessos ao esporte na idade adulta.
Para transpor essa visão de prática esportiva “na escola” necessitamos de uma ação própria que chamaremos aqui de Esporte “da Escola”, pois o contexto escolar, por ser um espaço diferenciado, exige sua aplicação de maneira própria, por isso usamos o termo esporte “da escola”.
Muitos profissionais da área de Educação Física adotam como prática profissional docente uma perspectiva técnica no processo de aprendizagem. Essa visão prioriza os objetivos e o resultado final, desprezando o processo, conforme cita Gómez (1997, p32).

A qualidade do ensino manifesta-se na qualidade dos produtos e na eficácia e economia de sua consecução. O professor é um técnico que domina as aplicações do conhecimento científico produzido por outros e convertido em regras de atuação.

Este conceito com foco no produto final, na eficácia, aplica-se perfeitamente ao esporte de rendimento, mas caminha na contramão dos objetivos escolares que devem centralizar suas ações exatamente no processo, e por isso necessita de uma atenção especial do docente. Estimular os alunos à uma reflexão sobre sua ação e a compreensão de cada etapa da aprendizagem e do jogo, não se atendo à técnica e ao resultado é questão primordial.
Outro fator extremamente relevante é o conhecimento do contexto no qual estamos inseridos. Cada sala de aula revela-nos uma realidade nova. É praticamente impossível encontrarmos uma série onde todos os alunos sintam-se atraídos pelo esporte.
Infelizmente, os professores acabam priorizando os mais habilidosos, excluindo os menos aptos, que na maioria das vezes, não jogam ou são os últimos a serem escolhidos, ou participam dos jogos somente de corpo presente ou, ainda, quando sua equipe vence, o mérito é sempre dos outros e quando perde a culpa é dele.
Esse quadro apresentado está excessivamente presente nas aulas de Educação Física espalhadas por todas as escolas do país, sem distinção de níveis: Municipal, Estadual ou Particular. O tripé que sustenta a prática esportiva na escola, técnica, cognição e sociabilização, acaba apresentando-se de maneira manca, pois a técnica é bem explorada, e as cognições deixam falhas devido ao fato dos movimentos serem mecânicos, não havendo reflexão sobre a prática e a sociabilização, contemplando, como relatamos, a exclusão dos alunos menos habilidosos.
De acordo com os PCN (1997), a Educação Física necessita trazer uma proposta que procure democratizar, humanizar e, principalmente, diversificar suas práticas pedagógicas, ultrapassando a visão apenas biológica e incorporando áreas e dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais dos alunos.
Respondendo nossa pergunta inicial, “Esportes: Inclusão ou Exclusão?”, podemos concluir que o esporte bem trabalhado, definido aqui anteriormente como “da escola” torna-se um instrumento muito potente para a promoção da inclusão, respeitando as características e as individualidades do nosso grupo de alunos, entendendo o sentido e a execução de cada movimento, compreendendo virtudes e limitações, individuais e de seu grupo.
Quando negamos essa realidade, focando o esporte de rendimento, o esporte “na escola”, acabamos promovendo a exclusão em nosso grupo. Muitas vezes, resultados competitivos são atingidos, a escola vence campeonatos, o professor é prestigiado, muitos alunos sonham com o sucesso esportivo, mas o preço dessas conquistas será pessoas adultas, no futuro, negando a prática esportiva porque passaram pela experiência da exclusão na idade escolar.
Como educadores devemos aguçar nossa sensibilidade todos os dias para afastarmos todo e qualquer tipo de exclusão, a fim de promovermos a inclusão em nossas aulas de Educação Física e nos esportes em geral.

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